Salenco.


Salenco acordava bem cedo. Não importa quanto tempo ela passou dormindo, ela precisava levantar cedo. O café era essencial não somente para ela, mas para todos os homens da casa. Salenco era mãe de três filhos: Um era casado e vivia com a esposa, o outro era um professor e trabalhava fora e o terceiro morava na casa. E ainda tinha o marido que sempre passava a maioria do tempo contando sua vida em uma mesa de bar.

Mesmo sendo a única mulher da casa, Salenco era guerreira. Desde o casamento, sempre batalhava pela sua vida de professora. Acordava cedo para ir às escolas (pois ela trabalhava mais de uma escola) e cuidava da educação de todos os seus filhos escolares. O giz e o apagador eram suas armas do dia a dia. Mesmo sendo uma profissão pouco valorizada e injusta, ela sempre ia trabalhar de cabeça erguida, mesmo não tão erguida assim por dentro.

Em casa, conversas ou silêncio. Não importa como era o clima da casa, mas Salenco se sentia vitoriosa, pois venceu mais uma batalha diária. Porém o seu momento de heroísmo estava por vir...

Salenco escrevia quando podia. Mesmo versos bem trabalhados até desabafos escondidos debaixo da cama. Ela sempre escrevia. Não importa a quão cansada ela estava. Ela sempre escrevia muito. Para ela, escrever era um ato heróico. Pois escrevendo, dependendo da sua imaginação, você pode mostrar tão forte e tão imortal. Salenco sempre escrevia poesias fortes. E isso era uma auto-ajuda para espantar a sua fraqueza.

Eu me lembro uma vez que estava na casa dela como visita e perguntei: “O que você escreve tanto?” Ela dizia que muitas coisas. Coisas. Muitas. Muito. Perguntei mais uma vez: “Por quê?” Ela tirou os óculos do rosto e apenas disse: Um dia você vai entender o porquê. Naquela época eu não entendia. Isso é sério. Não entendia o poder o qual a escrita proporcionava. Salenco sempre usava as palavras como arma principal quando enfrentava o mundo. Tanto para enfrentar ou fugir de seus medos, tanto para proporcionar ou distanciar da felicidade e da tristeza. Não importa qual sentimento ela queira buscar o afastar da sua vida. A escrita sempre foi sua arma principal.

Infelizmente, essa arma não foi eficiente para sua morte...




Quando me falavam de heróis, sempre via na minha cabeça seres imortais, com poderes magníficos, incapazes de serem derrotados. Homens são animais interessantes. Sempre usam como base de sua inspiração, coisas que estão além do seu alcance. Com o tempo a gente aprende que heróis não são aqueles que lemos nas revistas em quadrinhos, tampouco aqueles que vimos nas salas de cinema. Heróis são aqueles que, mesmo não sendo mais presentes na Terra, foram seus mestres na vida. E no seu estilo de vida.

Salenco é minha heroína. E isso apenas usando caneta, papel e a sua imaginação.


Arma poderosa. Assim posso dizer.

Texto dedicado para Salete Ribeiro.

4 comentários:

Taty disse...

Heróis são aqueles que mesmo com seus gestos mais simples, conseguem deixar sua marca por menor que seja, para aqueles que os admiravam :)

Adorei a homenagem. Ja a admiro!

Rafael Santos disse...

Lindo, poético, inspirado.
Este texto teve a sutileza necessária e foi rico na grandiosidade de análise quanto a um artista. Sua homenagem foi realmente bonita e ouso dizer que tal personagem é, de fato, verossímil. Belo desfecho (:

Nilson C. disse...

Eis mais uma heroína chamada Salenco. Uma VERDADEIRA heroína, digo.

Thybério Bastos disse...

A gente precisa ter um pouco de Salenco em cada um de nós.

 

Ѽ ●๋•мαℓƒєιтσ вєм-ƒєιтσ●๋• Ѽ Design by Insight © 2009